Atualmente é comum perceber a desigualdade social, quanto à distribuição de terras e de oportunidades. A má distribuição de terras e de oportunidades vem desde a colonização do Brasil, pois os portugueses não queriam desenvolver a colônia, mas sim retirar riquezas da mesma, o que gerou a miséria em muitos locais no Brasil. Foi a partir séc XIX, quando houve a abolição da escravatura que podemos afirmar que a desigualdade aumentou, pois os negros eram descriminados, não arranjariam empregos e nem lugares de qualidade para morarem. As soluções mais convenientes seriam se abrigar ou nas fazendas de seus senhores ou então em encostas e morros, construindo a sua própria casa, as chamada favelas ou cortiços.
Na obra “O Cortiço” de AZEVEDO, Aluísio, que viveu entre 1857 e 1913, marca o naturalismo brasileiro, era uma época de profundas modificações, como a abolição da escravidão e a instalação da república. Em sua obra fara uma crítica às classes menos favorecidas e a marginalização da sociedade, mostrando a cruel e crua realidade e a falta de oportunidades para às mesmas. A Obra passa no Rio de Janeiro.
Em um dos trechos do livro diz: “Daí a pouco, em volta das bicas era um zum-zum crescente; uma aglomeração de machos e fêmeas. Uns, após os outros, lavavam a cara incomodamente, debaixo de um fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos [...] As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali, mesmo no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.” Cap. III, pág. 38.
No livro é possível identificar aspectos quanto à exploração do trabalho e a condição de trabalho que certos moradores submetiam para sobreviver, além de alguns moradores do cortiço ser manipulados. É importante destacar o preconceito da classe mais alta em relação à classe mais baixa. “À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço [...] e ouvia a contragosto o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados.” Cap. II, pág. 29.
Anos mais tarde por volta dos anos 30, surge a 2º Fase do Modernismo no Brasil, cuja função do modernismo era chocar a população sobre a vida e as condições de sobrevivência miseráveis que ainda havia. A 2º fase do Modernismo irá abordar problemas sociais, das pessoas que nunca tiveram oportunidade de falar o que pensam, são os sertanejos e os nordestinos, relatando o descaso aos mesmos.
RAMOS, Graciliano, que viveu entre 1852 e 1953, irá abordar em seu livro “Vidas Secas”, a história de uma família de retirantes pobres, que lutavam por trabalho e condição de vida melhor, onde no final acabam indo para a cidade em busca de melhores condições, combatendo dia a dia a seca que predominava no nordeste. Em sua obra predomina a simplicidade das personagens e também a brutalidade e a falta da fala entre os personagens da obra. Mostrará a vida seca, seca sem esperança e melhora de vida.
É uma crítica, cujo objetivo de RAMOS é chocar, a fim de perceberem que aquelas pessoas podiam ser iguais como quaisquer outras.
Em um dos trechos de seu livro diz: “A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. - Anda excomungado. O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça.” Cap. I, (Mudança), págs. 9 e 10.
“Sinhá Vitória percebeu-lhe a inquietação na cara torturada e levantou-se também, acordou os filhos, arrumou os picuás. [...] Fabiano achou-se leve, pisou rijo e encaminhou-se ao bebedouro. Chegariam lá antes da noite, beberiam, descansariam, continuariam a viagem com o luar. [...] Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.” Cap. XIII (Fuga), págs. 125 e 126.
Algo muito que se assemelha ao livro de RAMOS e o poema “Morte e Vida Severina”, criado por MELO NETO, João Cabral de, publicado em 1966, porém escrito entre 1954 e 1955, o poema de MELO NETO mostra a dura e crua realidade de um retirante que busca emprego e uma vida melhor, que não haja seca e não passe fome como em Pernambuco. Em sua trajetória encontra corpos de mortos sendo carregados, que segundo o poema era melhor morrer do que ter aquela vida sofrível e miserável. Sua trajetória vai até Recife, chegando lá continua vendo mortes, a partir desse momento não quer mais viver, mas sabia que aquela era sua missão e tinha que aproveitar a vida, pois ela é muito curta, ainda mais para um Severino e que a vida havia momentos bons.
Em um dos trechos da poesia de MELO Neto, relata a vida dura que se havia. “E se somos Severinos/ iguais em tudo na vida, /morremos de morte igual,/mesma morte severina: /que é a morte de que se morre/ de velhice antes dos trinta,/ de emboscada antes dos vinte/ de fome um pouco por dia/ (de fraqueza e de doença/ é que a morte/ severina / ataca em qualquer idade,/e até gente não nascida).”
AZEVEDO, Aluísio/ RAMOS, Graciliano/ MELO NETO, João Cabral de não foram os únicos relatarem da desigualdade social crescente que vinha ocorrendo no Brasil, AMADO, Jorge, que viveu entre 1912 e 2001, também publicou um livro em 1937, cujo livro é “Capitães da Areia”. É uma história que conta sobre os meninos de rua que foram abandonados, filhos de famílias pobres, cujo seus pais haviam morrido, ou maltratava os mesmos. Os meninos tinham comportamento de bandido, já que era a única forma de sobrevivência, além de terem comportamentos como de adultos, pois haviam aprendido com a vida serem daquele jeito.
Tinham sonhos, mas o maior desejo era se vingar dos ricos, os quais tinham tudo e eles não tinham nenhuma condição e nenhum direito como um rico tinha. A história se passa na Bahia.
Uns dos trechos do livro “Capitães da Areia” de AMADO, Jorge que mostra o comportamento dos meninos e a vingança é: “Lá em cima, na cidade alta, os homens ricos e as mulheres queriam que os Capitães da Areia fossem para as prisões. Lá embaixo, nas docas João Adão queria acabar com os ricos, fazer tudo igual, dar escola aos meninos” Cap. VII (Deus Sorri como um Negrinho), pág. 99.
“Não seriam meninos toda a vida... Bem sabia que eles nunca tinham parecido crianças. Desde pequenos, na arriscada vida da rua, os Capitães da Areia eram como homens, eram iguais a homens. Toda a diferença estava no tamanho. No mais eram iguais: amavam e derrubavam negras no areal desde cedo, furtavam para viver, como os ladrões da cidade.” Cap. XXII (Na rabada de um trem), pág. 208.
Passado 56 anos a desigualdade Social permanece no Brasil, principalmente nas regiões menos desenvolvidas e que sofreram mais com a descriminação, a falta de oportunidade e a exploração, principalmente na região nordeste. Além disso, é possível encontrar ainda pessoas que sofrem com a falta de moradia, os sem-terra é um exemplo, massacres e torturas acontecem com essas pessoas que sofrem com a pobreza, seca e falta de oportunidades e o governo infelizmente não toma nenhuma providência.
Adriana Arthuzo Barone
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